quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Encontro parte 1 (Experimento 3)

Sabe, ontem, quando arrumava o meu quarto, que estava uma zona, eu encontrei uma caixinha embaixo de todas as roupas. Guardei longe da minha vista por algum motivo que não sei. Na verdade, sei sim. Queria manter distante tudo o que me lembrasse você. Só que a minha coragem não é tão grande e tive medo de jogar fora as lembranças. Quanto tempo faz mesmo desde a última vez em que nos vimos? Um mês? Dois? Para mim parece anos. Se depois de tudo ainda penso em você? Claro! Dia após dia. É só ficar distraído e ouvir tocar um blues, ou sentir um cheiro familiar, que já caio na cilada das lembranças. Sonho ao som daquela cantora... aquela com uma voz doce, bem suave. Aquela que canta em inglês e eu nada entendo. Ela me faz pensar em você. Pensar no futuro que teríamos assim que você me convidasse a construir uma vida ao seu lado. À noite, então, custo a dormir imaginando os dias felizes, as gargalhadas, os carinhos e até mesmo as brigas procedidas pelas pazes. Fazer as pazes é tão bom. Faz com que as brigas valham alguma coisa.

É engraçado eu te encontrar logo hoje. Logo hoje que tenho na mente todas as palavras que foram ditas e escritas. Repassei tantas vezes que poderia recitá-las como em um monólogo. Elas me fizeram considerar uma volta sua. Porque vendo tanto carinho demonstrado, tanta paixão nos seus olhos, tenho dificuldade em pensar que não se passava de uma mentira. Mentira para você, já que eu fiz de cada investida sua a minha verdade. Pensei que fossem nossas verdades. Me ouvindo, agora eu me sinto tão criança. Quase 30, mas infantil.

Olhando agora para você, sinto que gostaria de entrar em sua mente. A de agora e a de antes para saber das suas verdadeiras intenções. Me mata pensar que tudo foi estrategicamente planejado. Você faz isso muito bem. Não sei para que serve, mas você faz isso muito bem. Apesar de na cabeça já ter a certeza de que não existe ou existirá nada mais (se é que existiu em algum momento), meu coração quase sai pela boca todas as vezes que alguém bate na porta, que o telefone toca e quando chega um notificação do aplicativo no celular. Bate uma euforia que você não tem ideia. Sinto até uma espécie de alegria chegar... mas ela vai embora logo que percebo que não é você. Ah! Eu nem sei porque estou dizendo tudo isso. Talvez porque nada foi dito da sua parte e a falta de respostas me destrói. Apesar da dor, preferiria que tudo fosse escancarado, jogado na cara, ainda que sem pena. Agora eu temo, mas preciso te escutar. Posso jogar fora todas as cartas? O ciclo pode ser fechado? Posso então ficar em paz? Me diga como devo proceder. Estou cansado dessa incerteza. Prenda-me ou me liberte finalmente.

domingo, 26 de outubro de 2014

Eu não sei (Experimento 2)

Eu não sei. Eu não sei como  acordar na madrugada e voltar a dormir. Nem amanhecer ao tocar do despertador e não ficar minutos deitado na cama perdendo o tempo e me atrasando para o trabalho. Só por pensar em você. Eu não sei preparar o meu café da manhã predileto e ter a mínima vontade de comer, só por pensar em você. Eu não sei andar pela calçada e perceber qualquer pessoa que venha em minha direção, só por lembrar do teu rosto, do teu sorriso, da tua voz. Eu não sei pôr os fones no ouvido e escolher qualquer uma das músicas da minha playlist sem exitar por um tempo, porque todas me trazem uma necessidade incontrolável por você. Aliás, até consigo: o mesmo álbum da Cássia Eller que toca há mais de um mês pela falta de coragem de tentar ouvir as outras coisas. A Eller é a única que me deixa passar incólume. Depois de você, trabalhar é uma tarefa difícil. Depois, comer é uma tarefa difícil. Conversar também é difícil. Estar alegre, impossível. Depois de você, ninguém no mundo se faz interessante aos meus olhos. Eu não sei. O que faço. Eu não sei. Como fico bem. Com a incerteza. Sobre mim. Sobre você. Sobre nós. Eu não sei. Lidar. Com. A quase certeza. De que não. Há um nós. Fico mesmo sem saber. Só o que sei: teus olhos; cabelos; tua pele; tua boca; teus beijos; teu corpo; teu cheiro; tua voz; teu calor; teu carinho; teu ser; tua presença; teu riso; teu grito; tuas histórias; teu gosto; tua imperfeição mais que perfeita; você. Te esquecer é tudo. Tudo o que eu não consigo saber.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

breve passagem (Experimento 1)

chegou nas pontas dos pés. surpreendeu. se fez presente sem anunciar. não falou com o porteiro. não bateu na porta. apenas entrou. chegou na sala. ligou a tv. sentou no sofá. foi à cozinha. se alimentou. entrou no quarto. deitou na cama. se fez beleza aos olhos. se fez arrepio à pele. se fez calor ao corpo. se fez amor ao desejo. adentrou a alma. fez estada no coração. dilatou o espaço. fez ali uma casa. com sala. com cozinha. com quarto. com cama. e na ponta dos pés, saiu. se fez ausente sem anunciar. não avisou ao proprietário. não fechou a porta. apenas saiu. e onde antes não havia espaço... muito espaço. ficou vazio. agora, muito trabalho. esvaziar os cômodos. derrubar a casa. limpar o entulho. apertar o coração. diminuir o espaço até caber no corpo. pôr muro ao redor da alma. se fechar. avisar ao porteiro para não deixar ninguém entrar. só custará um tempo. mas vai passar.