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A noite passada era um mistério. Como não se lembrava dos
acontecimentos? Era sábado e sabia que chegara do trabalho às 19h30 na
sexta-feira. Não houve happy-hour, disso tinha certeza. A bebida não era o
motivo de sua amnésia. Refez então os passos com o esforço da mente:
"Cheguei ao prédio, cumprimentei Seu João da portaria, chamei o elevador
que estava no 10º andar. O elevador chegou, eu entrei, apertei o número 11 e
subi. Saí no meu andar, andei até a entrada do apartamento, coloquei a chave na
fechadura, destranquei a porta, abri e... e..." Não se lembrou de nada a
partir dali.
Descontente, lhe passava pela mente várias e inimagináveis
possibilidades de acontecimentos daquela noite. Sem lembrar-se de nada, não
poderia dizer se fizera algo bom ou se enlouquecera totalmente. E se enlouqueceu?
As pessoas viram? Será que tinham alguma prova contra? Temeu ainda mais.
Decidiu que ficaria ali para sempre, trancado no apartamento, deitado naquela
cama, envolto por aqueles braços.
Em meio a todo medo, se deu conta de que os possíveis problemas eram
secundários. Nesse momento precisava descobrir com quem havia dormido. Com frio
na barriga, decidiu, finalmente, virar o rosto e vislumbrar o seu companheiro
de sono. Moveu-se vagarosamente com um movimento que parecia nunca terminar.
Quando conseguiu deitar sobre suas costas, "Bom dia!", disse uma voz
próxima ao seu ouvido. Os seus olhos pareciam querer saltar do globo ocular.
Todas as lembranças apareceram de repente. Não queria acreditar nos flashbacks,
não, não podia. Depois dos longos trinta
minutos sem qualquer indício dos fatos, agora tinha uma certeza: Nada daquilo
deveria ter acontecido.